segunda-feira, 16 de junho de 2014

Inferno!

Inferno porquê? Inferno é um termo usado por diferentes religiões, mitologias e filosofias, representando a morada dos mortos, ou lugar de grande sofrimento e de condenação.  Ora, para mim, a II edição do Iberman foi de facto um local de grande sofrimento, com o Inferno instalado na zona entre Mértola e a localidade espanhola de Granado, onde, à sombra, estavam mais de 40º C. Digamos que, não serão, de todo, as condições desejáveis para competir numa prova já de si muito exigente, como é um Ironman.

A partida foi dada pelas 7h00 da manhã em Monte Gordo. Gastei 1h11' para cumprir os 3,800 Km de natação, sempre um nadinha ampliados pelo facto de, em águas abertas, ser complicado manter uma linha recta.

Comecei então a pedalar perto das 8h15, ainda sob uma temperatura agradável. Aguardavam-me 180Km - mal medidos por defeito, com um desnível positivo acumulado de cerca de 2000 m. O trajecto rumava a norte, infletindo em Mértola na direcção de Espanha, território no qual entrava pouco depois, cruzando o rio Guadiana no Pomarão. A partir daí, rumo a sul, para Ayamonte, onde deixaria a bicicleta e iniciaria a corrida de 42Km.


O calor era muito e assim, a estratégia de prova passava por alguma contenção neste segmento. De qualquer modo, andei bem neste segmento - 7º tempo absoluto, bebendo água lisa, água com sais, barras, géis e electrólitos. Despejei vários bidões sobre mim e dentro do capacete. Perto do Km 110 pensei seriamente em parar por ali. Estava a arder. O calor era tanto, tanto, que os pés latejavam e pareciam assentes sobre brasas.

Contudo, algo agradável me esperava naquela localidade: bebidas FRESCAS! Repus todos os meus bidões, bebi, molhei-me, refresquei-me. Fiquei como novo e com ânimo novo, para ir em busca dos adversários que então me antecediam.

Ao fim de cerca de 5h55 sobre a Specialized Transition e o sétimo registo do dia, era tempo de calçar as sapatilhas e enfrentar a Maratona. Iniciei o segmento de forma muito cautelosa para avaliar o meu estado. Até nem estava nada mau e lá segui. Ia ganhando tempo para quem me precedia e havia sido apenas ultrapassado por um atleta mais rápido - infelizmente era do meu escalão!

Dupliquei a capacidade de transporte de líquidos face a 2013
 O gel que tinha reservado para este segmento fervia, eu fervia, a água fervia. O calor era sufocante mas, felizmente, não tanto como mais acima, em Mértola, havia um par de horas. Foi aqui que, na minha opinião se verificaram as maiores fragilidades da organização. Os abastecimentos estavam pobres em quantidade e, sobretudo, em qualidade. Não é admissível racionar abastecimentos nestas condições a duas garrafas por atleta, em cada um dos postos de abastecimento. Não é admissível servir Coca Cola quente, como se de chá se tratasse, ter pouca fruta e apenas umas quantas barras que ninguém já consegue ingerir. Em suma, não gostei e achei que, neste particular, a prova esteve muito aquém da edição de 2013.

Carmo, o Homem Pyrex :-)

Voltando à minha corrida, depois de uma ligação de 12Km, entre Ayamonte e Huelva chegávamos a um circuito de ida e volta, com 10 Km, que percorríamos por três vezes. Bom para o público, maçador para os atletas. Na segunda volta, portanto quando seguia com cerca de 22 Km já percorridos, senti-me bem e acelerei um pouco. Infelizmente, não consegui manter aquele ritmo nos últimos 10Km pois o desgaste era já muito grande e a parte muscular ameaçava querer deixar de colaborar a qualquer momento. Corri em 4h07.

Terminei no Top 10, numa prova cuja startlist não era assim tão forte, e alcancei a segunda posição no meu Escalão [45-49], com um registo final de 11h22'44". Demorei mais uns minutos que na edição do ano anterior, apesar de serem provas incomparáveis, tanto pelos percursos, que foram distintos, como pelas condições atmosféricas que, aqui, estavam impróprias para a longa distância.

Pude constatar também que deve ser feito de uma espécie de Pyrex... posso ir ao forno... :-)  mas, aprendi também que, muito dificilmente, voltarei a competir neste tipo de condições atmosféricas. Agora, tempo de recuperar e começar a preparar o segundo objectivo da época o Titan.

Fotos do João Serôdio. Em breve as estatísticas

2 comentários:

Hugo Gomes disse...

Carmo,

Completar um Ironman já é um grande feito mas com essas condições é-o duplamente.

Parabéns e boa recuperação.

Um abraço!

Vitor Oliveira disse...

Eu sei que é uma desilusão não cumprir os nossos objetivos, mas de qualquer forma completar uma prova destas não é para qualquer um! Parabéns!

Abraço!