domingo, 29 de outubro de 2023

Slot tropical

O Ironman Malaysia foi a minha escolha para competir na longa distância em 2023. Um destino diferente, num país com um povo fantástico e muito hospitaleiro, onde ser turista até sai barato. Correspondeu muito bem às elevadas expectativas que levava e dei a viagem por bem empregue.

Já no que respeita à prova, confesso que a temperatura da água me deixava algo apreensivo. Apreensão essa que aumentou depois de, nos dias prévios, ter nadado no mar. Apesar de ser uma autêntica piscina, 31C não é de todo confortável para nadar. Tudo isto acrescido por um mês de Setembro sem a minha habitual piscina para treinar, o que me levou a ter de encontrar alternativas, mas onde nunca me foi possível nadar com o volume e intensidade desejados. 

Os dias prévios na Malásia corriam de feição. Reconhecemos o percurso de ciclismo e de corrida, fizemos os procedimentos prévios à prova e até deu para reparar um pequeno dano na minha bicicleta, ocorrido durante a viagem.

No entanto, na véspera da prova acordei com cólicas e diarreia. Logo eu, pouco atreito a este tipo de coisas e onde tive particular cuidado com a alimentação. Apesar de ter comido o mesmo que toda a gente era o único com estes sintomas.


Mal-estar à parte lá fiz os procedimentos de check-in e, logo aí, outro disparate: guardei o gps da bicicleta no saco da corrida - ao qual não teria mais acesso, até iniciar o dito segmento, o que significou um percurso de ciclismo com pouca informação disponível.

Ora bem, com todos estes incidentes, havia que adaptar o mindset à nova realidade. Assim, ponto 1: conseguir cumprir o segmento de natação sem sair da água cozido. 

O percurso tinha 2 voltas, com saída australiana. Cumpriu-se à velocidade possível, mas de forma bastante confortável e, muito importante, sem cólicas. Saí da água com cerca de 1h22' de prova. Uma marca fraca mas, atentas as circunstâncias, acabava por não ser mau de todo, até porque ainda havia bastantes bicicletas no parque de transição.

O ciclismo foi feito sem as referências de potência nem de frequência cardíaca, pois apenas tinha o relógio de pulso, o qual, com a chuva que caía não era de fácil leitura. Com uma cólica aqui e outra acolá, ia passando atletas atrás de atletas. Perto do Km 70 cruzo-me com o support crew e a Rita diz-me que seguia em 6º lugar do Agegroup. 


Lá fui andando até ao Km 160, onde tive uma quebra pouco habitual, que me obrigou a reduzir o ritmo nos 20Km que faltavam até à transição. Mesmo assim, acabei o segmento algo desgastado.



Bem... a 2a fase estava cumprida. Fiz uma transição lenta, para tentar recuperar um pouco e arrefecer o corpo, já que estávamos dentro de um pavilhão climatizado. Agora é que ia doer, pois o sol estava exposto e no seu pico de maior intensidade.

Saí para a corrida em 2º lugar do Agegroup, mas com cerca de 15' de atraso do líder. Ia mais rápido do que ele e as minhas contas diziam que se assim nos mantivéssemos o apanharia antes do Km 40. Isto se não tivesse nenhuma quebra e se os intestinos aguentassem... ou ficava bom... ou ficava estendido na estrada! :-) 


Mas fui precisamente eu a ter uma nova quebra e a ter de caminhar a pé entre o Km 8 e o Km 10,  momentos em que aproveitei para arrefecer o corpo, para ingerir gel, coca-cola e sais, com fartura. A coisa melhorou, voltei ao ritmo pretendido, e sobretudo, queria tentar defender um lugar no pódio.

No entanto, pesem todos estes incidentes, as boas notícias chegavam perto do Km 12... Afinal seguia em primeiro, pois quem liderava anteriormente estava a passar mal... Isto foi um enorme boost motivacional, aliado ao facto de me estar, então, a sentir bem e capaz de ser consistente. 

As comunicações dos tempos que me iam passando eram sempre melhores notícias. A diferença aumentava e podia dar-me ao luxo de correr mais devagar e de passar nos abastecimento com calma, sobretudo para despejar água gelada em cima, para combater o enorme calor e humidade que se faziam sentir.


Daqui em diante, e até à meta, foi apenas o desfrutar da sensação de ir voltar a ser o primeiro do Agegroup, numa prova excelente, exigente, e superando várias adversidades. O fantástico ambiente de fim de tarde na rua mais movimentada da cidade jogava bem com as emoções do momento.

E pronto, não sendo a slot um objectivo acabei mesmo por a ir buscar e, assim, marcar viagem, pela terceira vez, à ilha mágica -Big Island, Hawai'i. Kona, aí vamos nós. 

Completei a minha décima prova na distância Ironman. Cinco dessas vezes no pódio, duas das quais em primeiro lugar. Acho que posso dizer que é um desempenho regular e consistente, sem dúvida fruto do trabalho de vários anos com o meu coach e amigo Paulo Conde.

Acho que o melhor agradecimento, mais do que qualquer palavra, é dedicar-me ao cumprimento do seu trabalho e partilhar todas as emoções deste processo. :-)

Relive 'IM Malaysia'