segunda-feira, 7 de novembro de 2016

N2 - crónica

N2 a estrada mítica
A minha avó Amélia era natural de uma aldeia do concelho da Sertã: a Aldeia Fundeira da Ribeira. Desde muito cedo que a dita aldeia era um dos meus locais de férias. Numa altura em que a única autoestrada do país ligava Lisboa a Aveiras de Cima era um fascínio para o puto Fernando ver na Sertã marcos de estrada com a indicação Chaves | Faro e saber que aquela estrada cruzava o país de norte a sul.

Já havia percorrido alguns troços da mesma de bicicleta, ou até de carro. Mas, fazê-la de ponta a ponta andava a regurgitar-me na mente fazia tempo.

A data acabou de ser marcada num momento triste, da perda de um amigo (que seguramente gostaria de a ter pedalado connosco), mas onde percebemos que há coisas que temos mesmo de fazer e de desfrutar durante a nossa passagem no mundo.

 

Dia 01 | Chaves-Viseu | 171Km - 3057m d+

A sair das instalações dos Bombeiros de Chaves
Depois de no dia anterior termos realizado uma longa viagem, com paragem para um extravagante jantar em Moscoso, no restaurante Nariz do Mundo, estávamos em Chaves e preparados para o grande momento. Sentia-se no ar toda a excitação da partida.

A primeira etapa terá sido, talvez, a mais bela das etapas, com passagens em locais que não conhecia e com o fascínio das encostas do Douro.


Foi também o dia em que fizemos a mais longa subida de toda a jornada - 30Km, entre Peso da Régua-Lamego-Bigorne, localidade esta onde atingimos o ponto de maior cota, cerca dos 1000m.

Estradas boas, pouco trânsito, vistas magníficas e lá chegámos a Viseu.

Dia 02 | Viseu-Sertã | 167Km - 2410m d+

Aproximação a Santa Comba Dão
O segundo dia estava aí. Tínhamos pela frente aquela que considero ser a parte mais complicada do trajecto, que engloba duas incursões no IP3 para utilização de pontes para cruzar o rio.

A estrada bordeja o IP3, com passagens várias em túneis e viadutos. É estreita, de bom piso mas não tem carro algum. A partir de Penacova, deixamos o IP3 para trás e subimos para Vila Nova de Poiares entrando noutra dimensão da N2.

Fizemos então uma paragem durante a qual comi uma sopa. Soube bem, mas a meia hora seguinte não foi fácil a digerir couves. A coisa compôs pouco depois e entrámos na zona de serra, a partir de Góis. Chegados ao alto na N2, perto de Amieiros, tínhamos a vida facilitada, não obstante algum sobe e desce, que fez alguma mossa no grupo e nos obrigou a moderar o andamento até à belíssima vila da Sertã.
 

Dia 03| Sertã-Torrão| 218Km - 3149m d+

Aproximação a Vila de Rei
200Km é sempre uma cifra respeitável quando se fala em andar de bicicleta. Se a isso juntarmos as serras entre Sertã e Abrantes aumentamos, consideravelmente,  o nível de dificuldade. Fugimos à variante da N2 seguindo a belíssima rota antiga, mais sinuosa e com altimetria superior. Mas a estrada é excelente, sem trânsito e com belas vistas sobre as ribeiras que serpenteiam nos vales.


Abrantes marca uma completa mudança de paisagem que passa a ser mais plana e mais desinteressante. Tive uma avaria, perto de Bemposta. O cabo das mudanças traseiras partiu-se dentro da maneta o que dificultava a reparação no local. Consegui afinar as coisas para ficar com 39*13 e 53*13 e assim cheguei a Ponte de Sôr, onde consegui resolver numa oficina local.

Os restantes quilómetros não são de todo interessantes. Grandes rectas num sobe e desce ligeiro, mas massacrante, associadas a uma paisagem monótona. Depois de cruzarmos Montemor-o-Novo o pavimento da estrada melhorava ligeiramente e a média subia até ao Torrão, onde pernoitámos.

 

Dia 04 | Torrão-Faro | 173Km - 2067m d+


Faro é já ali...
Foi difícil. Depois da primeira hora de pedaleio o vento sul, contra portanto, marcava presença. O pavimento da estrada era também o pior de toda a N2 e, não obstante toda a entreajuda dentro do grupo, as coisas não estavam fáceis.

Foi então que apareceu ao nosso encontro, um grupo de Almodôvar - os Toka a Rolar, que nos dava uma ajuda preciosa, protegendo-nos do vento, impondo um ritmo confortável, e conversando sobre aspectos da paixão comum: as bikes. Serão para sempre lembrados por todos nós.

Depois de uma paragem em Almodôvar e da despedida dos "Toka a Rolar" as coisas melhoravam imenso. Era com enorme ânimo e disponibilidade que enfrentávamos a Serra do Caldeirão, a última dificuldade da rota. De tal maneira que os últimos quilómetros, bem rolantes, eram feitos a velocidades bem elevadas, a bater muitas vezes nos 50Km/h.

Esperáva-nos em Faro o último marco da N2 e uma hospitalidade enorme dos Bombeiros Municipais locais. Bem-hajam!
 
 

Um grupo de eleição


O grupo
A estrada mítica é desafiante e o tempo esteve divinal. Mas, sem as pessoas certas, nada disto teria tido piada.
Juntou-se um grupo perfeito, quer na entreajuda na superação das dificuldades da estrada, como nos momentos de convívio que se seguiam. Tudo isto enquadrado por uma equipa de logística perfeita.




 
Paulo Lamego, que operacionalizou uma ideia com toda a sua dimensão de Comandante, Carlos Viana, José Freire, Vitor Araújo, Marco, Ricardo Silva, João Serôdio e Pedro Machado foram os meus companheiros de viagem. Na logística, perfeita e fundamental, José Luís, Leandro, Nuno e Rita.

* a viagem foi acompanhada por Mário Galego, jornalista da Antena 1, que produziu uma reportagem a emitir no dia 09/Novembro, pelas 19h00.
* em breve publicarei também um video com as melhores imagens do evento.

* no final começava a fase das ideias estúpidas... fazer o Faro-Chaves! :-)





 


1 comentário:

Vitor Oliveira disse...

Aventura espetacular, parabéns! Ouvirei a reportagem amanhã com certeza.