sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O regresso à Ilha Mágica

Mesmo que tentemos encontrar defeitos no Ironman Hawaii - e há-os - esta é uma prova sempre rodeada de uma atmosfera incrível, que faz valer cada momento que lá vivemos.

Tendo feito a minha estreia em 2018, esta foi a minha terceira participação no evento. Nenhuma das três vezes foi igual à anterior. Desta vez, o formato incluía apenas a prova masculina e, só vos posso dizer que as mulheres fazem lá imensa falta.

A semana anterior à prova foi abordada com treinos de recuperação, afazeres próprios destes eventos e, também, alguns passeios turísticos nas proximidades. Guardo com particular emoção a proximidade com as tartarugas gigantes e o ter estado a nadar no meio de um grupo de golfinhos, no seu habitat natural.

Relativamente à prova, sentia-me em excelente momento e todos os indicadores apontavam nesse sentido. Estávamos a controlar muito bem os índices de hidratação e de nutrição, tudo apontando para sair um dia bom na competição.

A minha vaga [55-59] foi a última a partir, eram 07h40' da manhã. Optei por uma trajetória mais afastada das boias, para fugir à confusão inicial, o que não se veio a revelar a melhor das estratégias. Ainda assim passei imensos atletas, tanto do meu Agegroup como da vaga anterior. No entanto, o registo de 1h23' ficou bem aquém da minha expectativa inicial e da forma em que me sentia a nadar.

Chegava ao segmento de ciclismo com vontade de recuperar tempo e lugares. Contudo, sem entrar em excessos pois o inclemente ambiente do Hawaii não perdoa veleidades. Assim foi: ritmo forte, no entanto sempre controlado.

No entanto, cedo, o infortúnio aparecia no meu caminho. Na primeira zona de abastecimento apanhei uma garrafa e ao desviar-me de um atleta mais lento coloquei a roda numas depressões da via, usadas como sinalizadores sonoros, junto ao eixo da estrada. Com o guiador agarrado apenas com uma mão a queda foi inevitável. Foi seca e violenta, deixando-me combalido durante cerca de 10'.

Após este período decidi retomar a prova. Iria tentar concluir o segmento de ciclismo e depois tentar correr. No entanto, 40Km depois verifiquei que tal não seria possível. Os danos físicos causavam dor e desconforto e estava irremediavelmente fora da mais desejada prova do mundo!

A minha décima primeira experiência nesta distância acabava precocemente, ao Km 60, na Aid Station #3, instalada perto de Hapuna Bay! A primeira observação foi realizada por 2 médicas da prova e, posteriormente, por outros dois, já na Tenda Médica, instalada no centro nevrálgico da prova. As lesões possíveis de identificar consistiam num forte traumatismo no ilíaco, traumatismo da grelha costal e um estiramento no adutor da coxa, essa a mais grave, que me impedia de caminhar. 

Lá consegui contactar o Paulo e o Pedro, que vieram ao meu encontro e levaram-me para casa e levantaram o meu material.

O desporto é, como sabemos, uma excelente escola, quando o tema é lidar com a desilusão e frustração. Sábado, para mim, foi um desses dias.

Agora, tempo de lamber as feridas, de recuperar as lesões, e face a isso organizar a agenda de 2025!


Fotos do Pedro Machado












segunda-feira, 30 de setembro de 2024

T100

 

T100? Sim. É triatlo, num formato de distância algo recente e diferente do habitual. São 100Km distribuídos por 2Km de natação; 80Km de ciclismo; e uma corrida final de18Km.


Sines recebeu no passado Domingo a sua prova nesta distância - Sines Triathlon, a qual, juntamente com o Setúbal Triathlon, cria uma competição com duas etapas denominada HMS Series.

Procurava o meu último estímulo competitivo antes do Ironman Hawaii - já no próximo dia 26 de Outubro, e também garantir, no meu Agegroup, a vitória no HMS Series, já que trazia 8'15" de vantagem da etapa anterior, disputada em Setúbal.

O cenário e o dia estavam de eleição para a modalidade: água a 17C, mar calmo, estradas com bom piso e sem vento.

Natação cumprida em cerca de 35' sem qualquer stress ou dificuldade. A partir de aqui era acelerar atrás dos líderes do escalão. Fiz o meu melhor segmento de ciclismo de sempre, com média de 39,2Km/h, em 2h02'. Durante a segunda volta sinto uns salpicos nas pernas. Era o selante colocado no interior do pneu dianteiro, a cumprir a sua função e a tapar um furo, sem sequer haver uma perda de pressão que me obrigasse a parar para a repor.


Tinha conseguido apanhar o António Calafate antes da T2. Contudo, ele foi mais rápido e começou a correr à minha frente. Ainda mais adiantado seguia o José Rui Galvão. Estes são dois dos "ossos mais duros de roer" do meu Agegroup, que me obrigam a dar sempre o máximo para poder discutir a classificação.

Ontem, as coisas correram bem para o meu lado e pude, durante a corrida, assumir a liderança da prova a mantê-la até final, com um registo de 4h00'06... (sim... eu sei que podia ter sido 7" mais rápido nas transições...) :-)

Como se imagina, saio imensamente satisfeito de Sines. Para além da classificação, as sensações em competição. A jornada, ao lado do meu amigo e treinador Paulo Conde, tem sido fantástica a vários níveis e o seu resultado está à vista. Grato!


Como balanço final:

  • Um excelente ensaio para o dia 26 de Outubro, em Kona;
  • Vitória no Sines Triathlon, no AG 55-59, e 26º à geral;
  • Vitória no HMS Series, no AG 55-59
  • 2º melhor ciclista absoluto no HMS Series - sim, absoluto... pasme-se!



A seguir... Ironman World Championship Hawaii 2024, já a 26 de Outubro.

Fotos da Rita Ramos


segunda-feira, 24 de junho de 2024

Representando a equipa Triatlo Portugal

Passam 20 anos desde que, pela primeira vez, alinhei num triatlo com as cores da equipa Triatlo Portugal. Foi então na Madeira, corria o ano de 2004 e competi no Campeonato do Mundo de distância standard, no qual alcancei a 47ª posição. Quatro anos depois era a vez de Lisboa receber a mesma competição. Voltei a competir, tendo então ficado em 33º lugar.

Há 12 anos surgia a distância longa (4; 120; 30)Km, em Vitoria-Gasteitz - Espanha. Um dia duríssimo para mim, no qual terminei classificado em 56º. 

Vitoria foi um marco importante na minha história na modalidade, pois percebi que seria determinante ter um treinador, e no dia seguinte iniciei o meu caminho com o meu amigo Paulo Conde.


O passado Sábado marcou mais uma etapa neste caminho, com a minha quarta competição com as cores de Portugal, numa prova de média distância (1,9; 90; 21,1)Km, disputada em Coimbra, onde se atribuía o título de campeão europeu de média distância.

Segmento de natação cumprido em 37' - o possível e ao nível habitual. O segmento de ciclismo foi forte -2h20' para os 90Km - o que me permitiu recuperar terreno. No entanto, os mais rápidos do Agegroup também tiveram excelentes desempenhos neste segmento, pelo que as decisões finais ficariam mesmo para os 21,1Km de corrida, entre as margens do Mondego e a mata do Choupal.

Não tinha expectativas elevadas para este segmento, pelas vicissitudes que a minha preparação tem atravessado, no que à corrida diz respeito. Mas, o desempenho conseguiu ser ainda mais fraco do que eu poderia antever, com um registo de 1h39', desde logo impeditivo de lutar por algo melhor do que o 8º lugar na classificação M 55-59, em 4h43'.

Em suma, tempo de assestar o foco para a prova de outubro, na desejada ilha grande do Pacífico Norte. Faltam 124 dias!

  • O equipamento da equipa Triatlo Portugal é bom e bem conseguido em termos visuais. Fabricado pela EM3, que me tem equipado desde há uns anos a esta parte, era de modelo diferente daquele que tenho elegido. Como tal, comprimia-me um nadinha demasiado.
  • A organização implementou boas alterações ao percurso de ciclismo - as questões de segurança com muita gente no percurso assim o exigia.


Fotos da Helena e Rita Ramos 


 

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Half de Setúbal | 8 em 8

A época de 2024 abriu em Setúbal. Vou-me repetir, mas gosto de Setúbal e gosto muito, muito mesmo, do Half de Setúbal. Participei e concluí todas as 8 edições da prova realizadas e, em todas, consegui um lugar no pódio.

A prova de ontem servia para testar a optimização da minha posição em cima da bicicleta, depois de um estudo biomecânico realizado pelo Orbis Lab. Queria também avaliar o impacto do treino de natação na prestação na água, e ainda, determinar como uma pequena debilidade física me poderia condicionar a corrida. Isto, obviamente, depois de fazer o principal, que nestas coisas é andar o mais depressa possível.


A natação foi feita de forma tranquila, sem qualquer sinal de fadiga - nem de velocidade, infelizmente... Partida limpa e um percurso sem dificuldades de maior, concluído em menos de 33'.


Foco na transição, onde na ´época passada havia perdido demasiado tempo para o António Calafate, que põe sempre a fasquia do escalão a um nível altíssimo. Esses detalhes, a somar ao fosso que ele cava na natação, dificultam imenso as coisas.

Sabia que tinha feito um bom Inverno no treino de ciclismo e estava muito confiante para este segmento. Mantive a intensidade dentro das zonas definidas pelo meu Treinador Paulo Conde e o registo foi conforme o esperado: um excelente registo de 2h25', sem hipotecar o estado físico para a corrida final.

Aqui residia a grande dúvida. Conseguiria correr sem dor? E, até que ponto o menor nível de treino deste segmento condicionaria o desempenho final?

Felizmente, desta vez, a diferença para os principais competidores encerrava algum conforto para o meu lado. Não havia que tentar apanhar ninguém nem, tão pouco, evitar ser apanhado por quem quer que fosse. Foi assim possível manter a corrida dentro de algum equilíbrio e chegar à frente relativamente saudável, gastando 1h32 para cumprir os 21,1Km finais. No final, 4h36, com vitória no AG 55-59 e 69º à geral em 817 atletas.


O plano de hidratação/nutrição funcionou em pleno. O trabalho da Orbis Lab, na avaliação biomecânica e alterações introduzidas nas configurações da bike, foi sublime. O controlo de treino da Get Ready é sempre de extremo rigor e com indicações preciosas.

E quando tens um treinador que consegue fazer com andes mais depressa aos 56 anos de idade não há muito mais a dizer. Apenas obrigado pela amizade e competência.


Próxima competição: Half de Sevilha

Fotos: Helena Barros, Rita Ramos, Setúbal Triathlon